terça-feira, 20 de outubro de 2009

As lições de Reggio Emilia


Celso Antunes escrevendo para o portal Aprende Brasil, nos alegrou muito com a matéria sobre as lições de Reggio Emília, que eu compartilho com todos os meus amigos educadores:

Uma primeira lição, talvez a mais significativa, é aceitar que as crianças podem comunicar seus pensamentos e seus saberes, seus sentimentos e sua imaginação através de múltiplas linguagens e que, entre elas, nenhuma se destaca. É essencial a descoberta de que o que aprendemos pode ser falado, mas pode também ser interpretado, desenhado, musicado, dançado, enfim, expressado por diferentes vias. É essencial que as crianças conheçam, experimentem e respeitem todas essas vias e saibam descobri-las em sua relação com o mundo, com a alegria e com a vida. Diferentemente de como hoje ocorre na maior parte das escolas, as representações visuais não podem mais ser vistas como elementos decorativos, mas sim como recursos adicionais para um aprofundamento sobre os saberes que se constrói.

Outra lição importante é substituir a anacrônica visão de um mundo de conhecimentos organizados em disciplinas escolares por um outro, em que as lições de todas as áreas do saber se insinuam através de um projeto no qual um tema de interesse dos alunos e proposto por eles foi eleito como prioritário. Em Reggio Emília, por exemplo, quando se desenvolveu o projeto Tudo sobre as Bolas, estudou-se a matemática pela análise do seu movimento, a geografia dessa bola monumental em cuja superfície vivemos, a história das bolas e das esferas no lazer e na arquitetura dos tempos que se foram, a ciência das bolas presentes na natureza e assim por diante.

A terceira lição envolve a natureza e a seriedade do relacionamento adulto-criança. Desaparece nesse sistema educacional a hierarquia dos que sabem e dos que não sabem, dos que mandam e dos que obedecem, substituída por um relacionamento fundamentado em essencial parceria e centrado em torno de um projeto, visando à conquista de algum saber, de alguma coisa. São relacionamentos que contêm interesses e envolvimentos mútuos e, uma vez que não existem lições pré-especificadas e formais que todas as crianças precisam aprender, os professores e os pais podem criar múltiplos jogos e atividades que contribuam para o entendimento mais amplo do tópico que define a meta do projeto escolhido.

Uma importante lição que os professores de Reggio Emília transmitem aos seus colegas de todo o mundo é que, quando o adulto se comunica com sincero e sério interesse pelas idéias das crianças em suas várias formas de expressão, ocorre uma parceria de profunda relação afetiva e de plena interação pedagógica.

Uma lição significativa, e que as escolas Waldorf em todo o mundo também cultivam com ênfase, é a importância de as crianças permanecerem com os mesmos professores durante três ou mais anos, ainda que, além de um professor geral, possam se alternar professores específicos. Conhecendo melhor a criança e mais profundamente seus pais e seus valores, o educador pode compreender melhor o desenvolvimento humano e auxiliar a criança a descobrir-se agente de suas próprias mudanças.

O carinho, a ternura e o sentimento de afeto e respeito que os educadores de Reggio Emília nutrem pelos alunos de maneira alguma os distancia da imensa responsabilidade de dizerem “não” e de estabelecerem, junto com as crianças, regras que todos devem cumprir. As crianças de Reggio Emília não cogitam dispor de "servos" que arrumem suas mesas, mantenham seu material em ordem ou cumpram as obrigações que lhes cabem.

Entre ainda outras tantas lições que, por falta de espaço, omitiremos, seria impossível não concluir com a importante mensagem de que nessa comunidade escolar a educação é sempre centrada no aluno e em seu potencial ótimo e que, dessa maneira, não possa existir a suposição de que virtualmente todas as crianças devam ser sujeitas à mesma seqüência de tratamento, instrução e construção do saber. O desenvolvimento voltado para o ótimo se contrapõe à concepção, entre nós arraigada, de uma avaliação centrada no máximo. O máximo nivela identidades e padroniza procedimentos. O ótimo individualiza percepções e permite que tenhamos em nossos próprios limites o anseio para nosso desejado progresso.

Referências Bibliográficas

Para obter mais detalhes sobre Reggio Emília, leia As Cem Linguagens da Criança, de C. Edwards, L. Gandini e G. Foman, publicado no Brasil pela Artmed.

Para ter uma versão mais brasileira sobre estratégias possíveis para a percepção dessas linguagens, leia Jogos para a Estimulação das Múltiplas Inteligências, do próprio autor. 7. ed. Editora Vozes, Petrópolis.

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